CULTO AO FOGO:

 

 é a transformação da consciência humana em consciência divina.
É uma filosofia prática que permite ao ser humano acordar de seu sono e vivenciar a felicidade permanente que ele é.
O ser humano, não percebendo que ele já é a felicidade, busca incessantemente esta felicidade fora de si, nos objetos externos. Mais cedo ou mais tarde, percebe que a causa do seu sofrimento está na limitação de sua mente, e que a felicidade não é encontrada fora, mas em cada momento em que está consigo mesmo, sem desejos, sem pensamentos, em paz.
 
 
O Yoga Sutra, texto clássico sobre Yoga, inicia com a seguinte definição sobre Yoga:
 
Yoga é a suspensão dos processos mentais. (Yoga Chitta-vrittti nirodhah)
A mente oscilante é o grande obstáculo à percepção do Eu Real. Segundo o Vedanta este Eu é a base de tudo o que existe e sem esse Eu, que é consciência, a mente não seria possível, mas a mente não é real e encobre o Eu. Por essa razão o Yoga tem por objetivo interromper esse fluxo de pensamento e a identificação com a mente, percebendo assim a base da mente que é a consciência e alcançar o Samadhi (união, ênstase, superconsciência).
 
O Yoga citado nos Vedas é integral, sem divisões. Usar somente o termo “Yoga” deveria indicar que se está abordando o Yoga na sua totalidade. Mas hoje erroneamente se usa o termo e se fala somente do primeiro degrau do Yoga que é o Yoga corporal. Isto acontece porque esta é a porta de entrada do Yoga. Infelizmente muitas linhas de Yoga ignoram os próximos passos a serem trilhados pelos verdadeiros yoguis.
 
“Tempo houve em que desprezei o corpo mas então
vi Deus dentro de mim. Percebi que o corpo é o templo do Senhor,
e comecei a preservá-lo com infinito cuidado.”
                                           BHOGAR- Kundalini Yoga - sec.XVII
 
Hatha Yoga é um sistema de técnicas psicossomáticas que servem de instrumento para transformar o corpo físico num corpo divino.
 
“A mente é como o vento. O corpo como a areia.
Se voce quer conhecer o vento, observe o movimento da areia.”
 
As impressões da mente registram-se no corpo, em forma de tensões e flacidez, condicionando o caráter e posteriormente podendo causar doenças psicossomáticas. O Hatha Yoga é uma ramificação do tantrismo, é o sucessor imediato do culto Sidha do tantrismo que promoveu o culto do corpo ou compreensão através do corpo. A idéia central deste caminho é que o corpo não é um obstáculo à iluminação (como era afirmado em tempos pré tantricos), mas o templo do divino. A primeira intenção do Hatha Yoga é preparar o corpo para práticas mais avançadas e para a subida da kundalini (para que não haja um curto circuito). O Hatha Yoga revive o ideal antigo e popular da imortalidade no corpo, a compreensão de que a iluminação deve ser alcançada em vida e não após a morte, para tanto é necessário o corpo saudável, vitalizado e vida longa.
 
Consta que o fundador do Hatha Yoga foi Gorakshanata e atribui-se a ele duas obras: Hatha Yoga e Goraksha Sanhita, das quais conserva-se somente o segundo texto. Seu mestre é o lendário Matsyendranatha, um dos 84 perfeitos siddhas. Numerosas lendas tem sido criadas ao redor destes dois mestres, e é dificil extrair delas as realidades históricas. Entre os manuais de Hatha Yoga baseados nas obras de Goraksa estão o Siva-Samhita, o Gheranda-Samhita, o Hathayoga Pradipika, o Yoga-Yjnavalkya e o Yoga-Cudamani-Upanisad.
O Goraksa Samhita o mais antigo texto sobre Hatha Yoga expõe sua sadhana em 6 partes.
 
O Yoga, ou processo espiritual, sempre foi comparado a um fogo purificador que consome a personalidade egóica até deixar somente a Identidade transcendental (consciência testemunha).
A personalidade egóica luta desesperadamente para sobreviver. A mente e seus conceitos, não desejam ser questionadas e criam artimanhas para sobreviver. Mas a mente precisa morrer para que o Si Mesmo Transcendente possa brilhar. Para isso devemos submeter-nos ao fogo purificador do Yoga. È necessário uma disciplina constante e ardente.
 
O despertar da Kundaliní é dito como o despertar do fogo serpentino.
 
O fogo (agni) é produzido pela fricção de dois pedaços de madeira: um bastão mantido verticalmente e uma base horizontal. O girar do bastão superior, considerado o pai de Agni, faz brotar, no ponto de fricção, a faísca que inflama a base, considerada a mãe de Agni. A manifestação do fogo é, portanto, o resultado de uma fricção entre duas forças opostas, comparada ao ato de procriação.
 
Como o pote de barro cru é dissolvido pela àgua do rio,
o corpo é destruído pela morte.
Mas se o pote estiver cozido não se dissolverá.
Portanto submeta o corpo ao fogo do Yoga,
a fim de purificá-lo e fortificá-lo.
 
O esforço ou Sadhana é a disciplina ardente (Tapas) que vai permitir ascender o fogo serpentino (kundaliní). Este mesmo fogo é representado também no fogo sacrificial dos rituais Védicos (Atharvaveda ), onde o Deva ou princípio divino se torna manifesto e se eleva pela oferenda contínua. O sacrifício ou esforço é um dos fundamentos da doutrina Védica.
O que os textos védicos chamam de fogo, está longe de limitar-se apenas ao nosso conceito físico. O fogo representa o princípio da vida, de calor , de consciência, oculto em todos os seres. Como citam os textos: “o fogo habita escondido na terra, nas plantas, nas pedras e as águas o arrastam. Há um fogo encerrado profundamente no homem, um fogo nas vacas, um fogo nos cavalos.” Em outro trecho diz: “Ele permanece oculto ainda que suas chamas sejam brilhantes. Este fogo citado é a identidade única: Deus ou consciência que tudo ilumina e não é iluminado por nada. Reconhecer a si mesmo é Yoga. O Objetivo do Yoga é Moksha, a liberação do Samsara (ciclo de nascimento e morte), é encontrar a imortalidade ou reconhecer o Ser Imortal que somos.
 Esquemas Geométricos para a Meditação
 
(Yantra)
Um yantra é um esboço dos níveis e energias do universo - personalizado na forma de uma determinada divindade (devatâ) - e, logo, do corpo humano (que é a réplica microcósmica do macrocosmo). O yantra pode ser desenhado em papel, madeira, tecido ou qualquer outro material, ou até na areia, se não houver outra alternativa. Conhecem-se também modelos tridimensionais feitos de argila ou metal. O yantra tem função semelhante à da mandala ("círculo") usada no Tantrismo tibetano. A diferença é que a mandala tende a ser mais figurativa (isto é, inclui desenhos de seres e objetos) e se baseia num arranjo circular dos elementos constituintes. O típico yantra consiste numa orla quadrada que envolve círculos, pétalas de lótus, triângulos e, no centro, o "ponto seminal" (hindu). Cada componente tem uni simbolismo de variável complexidade. Assim, o triângulo que aponta para cima significa Shiva, o pólo masculino da realidade, ao passo que o triângulo que aponta para baixo significa Shakti, o pólo feminino. O ponto central é a matriz criativa do universo, o portal que se abre paria própria Realidade transcendente.
 
      Nos estágios mais elevados da prática tântrica, o yantra deve ser completamente interiorizado, ou seja o yoguin deve ser capaz de construir mentalmente o Seu complexo desenho geométrico por meio da visualização. O yantra pode ser criado do ponto interno para fora - segundo o processo da evolução macrocósmica - ou da circunferência exterior par, o centro - ­de acordo com o processo microcósmico de involução meditativa. Depois de construir interiormente o yantra em todos os seus detalhes, o yogin passa a decom­pô-lo novamente. Como a consciência dele identifica-se à estrutura do yantra, essa decomposição implica necessariamente a extinção dele enquanto sujeito da experiência. Em outras palavras, quando o yogin obtém êxito nessa pratica avançada, ele transcende a sua mente condicionada e é lançado no puro Ser -Cons­ciência - Felicidade, onde não existe a distinção entre sujeito e objeto.

 

O Tantrismo emprega um grande número de yantras. O Capítulo 20 do Mantra-Mahodadhi ("Grande Oceano dos Mantras") descreve vinte e nove yantras. O mais famoso de todos é, sem duvida, o shrî-yantra, reproduzido a seguir. O nome shrî refere-se a Lakshmî, deusa da boa fortuna. Este yantra é composto de nove triângulos justapostos que se dispõem de tal modo que, juntos, produzem um total de quarenta e três triângulos menores. Dos nove triângulos principais, quatro apontam para cima e representam a energia cósmica masculina (Shiva); cinco apontam para baixo e representam o poder feminino (Shakti). Esses triângulos são rodeados por um lótus de oito pétalas que simboliza o deus Vishnu, o qual se identifica à tendência ascendente que preenche todo o universo. O lótus seguinte, de dezesseis pétalas, representa a obtenção do objeto desejado     em particular, para os yogins, o poder sobre a mente e os sentidos. Ao redor desse lótus temos quatro linhas concêntricas que se ligam simbolicamente aos dois lótus. A orla feita de três linhas é chamada de "cidade da terra" (bhû-pura) e representa o lugar consagrado, que pode ser todo o universo ou, por analogia, o corpo humano.Alguns yantras rituais também são empregados para fins terapêuticos. Além disso, para a obtenção de curas mágicas, podem-se criar yantras específicos para uma doença ou uma pessoa, que são usados como amuletos. Em todos os casos, a eficácia do yantra depende da qualidade da concentração e da visualização do adepto, bem como do seu domínio sobre as energias sutis.Os sistemas originais de Tantra se basearam nos Cultos Draconianos ou Tifonianos do antigo Egito, conforme se pode deduzir dos resíduos de muitos termos egípcios em textos tântricos, particularmente nos da Índia. Por exemplo, shakti, que significa 'poder', o conceito central do Tantra, já era conhecido no Egito eras antes sob o nome de Sekht ou Sekhmet, a consorte dos deuses. Ela tipificava o calor ígneo do sol do hemisfério sul que tinha seu correspondente biológico no calor sexual da leoa, um símbolo de origem africana. Pasht, em Sânscrito, significa 'animal', e no Tantra a palavra Pashu se relaciona especialmente aos modos bestiais de congresso sexual, isto é, congresso sexual não sacralizado pela tradição ortodoxa. Da mesma forma, a palavra correspondente a Pashu existia no Egito como Pasht ou Bâst, a deusa felina que agia como uma gata e que, em eras posteriores, cedeu seu nome aos bast-ardos que, originalmente, eram aquelas crianças nascidas de mães que as criavam sozinhas, numa época em que o papel do macho no processo da procriação era desconhecido ou em que a paternidade individual não era reconhecida. 
 
No Tantra, as paixões animalescas eram tipificadas pelo pashu, isto é, alguém que desprezava os rituais tântricos na utilização das energias sexuais. Igualmente, o deus On no Egito representava o Sol e este nome foi perpetuado na religião Védica como Ong ou Om, a vibração primal do espírito criativo. Um outro exemplo interessante é o nome da deusa Sesheta, que representava o período menstrual feminino; no Hinduísmo, Sesha é a serpente de mil cabeças, bem como também é um nome tântrico para a vibração lunar ou 'serpente da escuridão' que se manifesta periòdicamente nas mulheres. Estes exemplos da origem egípcia dos conceitos tântricos são quase infinitos.
 
Os cultos Ofídicos (relativos à serpente) da África foram depurados de seu conteúdo tribal durante sua fusão com a Tradição Draconiana do Egito. Entretanto, é na Divisão das Kaulas do Vama Marg [Vama significa 'mulher'. Ela era tipificada pela lua, o néter, o fundo, ou inferno, em contraposição ao éter, o topo, o superior; a esquerda em contraste com a direita. Marg significa 'caminho'; daí o termo Vama Marg denotar o Caminho que envolve a utilização da mulher, a corrente lunar ou seus poderes infernais], ou Caminho da Mão Esquerda, que a forma mais perfeita desta tradição foi continuada na Índia e no Extremo Oriente. Desta divisão, a Chandrakala ou "Raio da Lua" manteve algumas das principais características dos cultos Ofídicos.
 
A aplicação dos processos Ofídicos ao corpo humano foi revelada em três níveis principais em que os segredos da magia sexual foram demonstrados com o uso das suvasinis ou 'mulheres de cheiro adocicado' que representavam a deusa primal e que formavam o Círculo da Kaula (o Círculo da Kala Suprema, Mahakala: a Chandrakala ou 'a Deusa do Raio da Lua').
 
De modo a transformar a energia sexual em energia mágica (ojas), a Serpente de Fogo (kundalini) adormecida na base da espinha é despertada. Ela então limpa a energia vital de tudo o que é negativo através da virtude purificadora de seu calor intenso. Assim, a função do sêmen no Tantra é construir o 'corpo de luz' (corpo astral), o corpo interior do ser humano. À medida em que o fluido vital se acumula nos testículos, ele é consumido pelo calor da Serpente de Fogo e os vapores voláteis ou 'perfumes' deste sêmen fortalecem o corpo interior.
 
O culto à shakti significa, de fato, o exercício da Serpente de Fogo, que não apenas fortifica o corpo de luz mas gradualmente queima todas as impurezas do corpo físico e o rejuvenesce. Quando o poder desperto da Serpente de Fogo chega ao plano da Lua, o fluxo de líquidos cérebro-espinais acalma os estados febris e remove todas as toxinas do corpo, refrigerando todo o sistema. Os adeptos do Tantra têm utilizado há muitos séculos vários métodos de elevação da Serpente de Fogo, e eles sabem, por exemplo, do valor mágico da urina e das essências vaginais que estão carregadas de vitalidade pois contêm as secreções das glândulas endócrinas. Estas práticas influenciam o sistema endócrino e estimulam os centros nervosos sutis ou chakras que formam uma ramificação dos centros de poder no corpo que agem como condutores das energias cósmicas.
 
Os Adeptos da Kaula, ao invés de dirigirem sua adoração à coroa da Deusa, preferem oferecê-la à vulva, onde está contida sua energia máxima, carregada de poder mágico.
 
As três gunas (os princípios sutis que equivalem aos elementos da Alquimia: Mercúrio, Enxôfre e Sal), Sattva, Rajas e Tamas se equivalem à suave e fresca ambrosia, ou vinho prateado da lua, ao vinho rubro dos fluidos ígneos de Rajas e às borras espessas do vinho vermelho, ou lava negra, de Qliphoth. No plano da Serpente de Fogo, Tamas, ou Noite, caracteriza Seu primeiro estágio: o caos negro da 'Noite do Tempo' e a 'Serpente do Lodo'. Quando a Serpente de Fogo desperta, Ela então derrama o pó vermelho, ou perfumes, associados ao Rajas. Este é o pó dos Pés da Mãe, que se manifesta no fluxo menstrual em seu segundo e terceiro dias. Finalmente, Ela atinge a pureza calma de sua essência lunar à medida em que chega ao cérebro, acima da zona de poder do visuddha (chakra da garganta). É nesta jornada de volta que Ela reúne estas essências num Supremo Elixir e o descarrega através do Olho Secreto da Sacerdotisa. A Lua Cheia, portanto, representa a Deusa 15, uma lunação, pois Ela é o símbolo do ponto de retorno, criando, assim, a 16a. kala ou Dígito do Supremo Elixir: a Parakala.
 
Rajas, Tamas e Sattva são representados na Tradição Oculta Ocidental pelos princípios alquímicos do Enxôfre, Sal e Mercúrio, assim revelando que a arte da Alquimia não tinha outra provável intenção além daquela que tem sido objeto da preocupação dos místicos e dos magos, isto é, a obtenção da consciência cósmica através dos Mistérios psicossexuais da Serpente de Fogo. Esta trindade, Rajas, Tamas e Sattva ou Enxôfre, Sal e Mercúrio, aparece no Tantra sob o nome de tribindu (três sementes; kamakala, literalmente, a flor ou essência do desejo). De acordo com o Varivasya Rahasya, estas três essências são conhecidas como shanti, shakti e shambhu, ou paz, poder e abundância, e elas fluem dos pés da Deusa. É por isto que o tribindu está situado, diagramàticamente, na trikona ou triângulo invertido (yoni ou vagina) que simboliza Kali. Sattva, Rajas e Tamas são, assim, as três gunas ou princípios representados um em cada vértice do triângulo pelas letras do alfabeto Sânscrito que contém as vibrações de seus poderes relevantes. Conforme orientação específica do Culto, uma ou outra guna é exaltada; na prática, a disposição das letras não faz muita diferença. É a coleta das essências dos pés da Deusa que deu seu nome ao Vama Marg ou Caminho da Mão Esquerda, pois, neste contexto, Vama significa tanto 'gerar' como 'botar para fora'. Os praticantes deste Caminho trabalham com as secreções que fluem da genitália feminina e não com a mera pronúncia das letras do alfabeto que, apesar de sua utilização mântrica para carregar e direcionar os fluidos, têm pouca ou nenhuma outra utilidade além desta.
 
De acordo com o Tantra, a Serpente de Fogo é em si o mantra criativo OM. A reverberação deste mantra, conforme ensinado no Culto da Kaula, alcança o poder enrodilhado na base da coluna vertebral e faz com que este se erga, inundando o corpo físico de luz. E, pela veneração tântrica da Serpente de Fogo através da vagina da mulher escolhida para representar a Deusa, a kundalini relampeja para cima e, finalmente, se une em êxtase ao seu Senhor Shiva no Local da Lótus de Mil Pétalas.